terça-feira, novembro 30

SOBRE O RECENTE PROTESTO CONTRA A UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Em protesto ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), publicado desde 2007 no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie contra o PL 122/2006 (conhecido como “lei anti-homofobia”), um grupo de ativistas organizou uma manifestação no dia 24 de novembro de 2010, por volta das 18h, em frente à universidade. Com previsão de mais de três mil participantes, o evento contou somente com cerca de 400, que se postaram diante dos portões da instituição, na Rua Itambé. Em seguida, o grupo deslocou-se do Mackenzie para a Avenida Paulista com um número já bastante reduzido, conforme anunciado por diversos veículos de comunicação como a Globo News, a Folha de São Paulo, a CET, o site da UOL e dezenas de outros sites informativos. Na universidade, as aulas transcorreram normalmente.


A oposição da IPB ao projeto de lei se baseia não só no senso comum e em análises jurídicas especializadas (que consideraram o projeto “inconstitucional”), mas sobretudo nos princípios cristãos que norteiam tanto a denominação quanto o Mackenzie. Não há novidade nisso: quando se matriculam na instituição, os alunos assinam o contrato de serviços educacionais, em que há uma cláusula explicando esse caráter confessional. Isso não significa perseguição a quem não subscreve essas bases cristãs, muito pelo contrário: não há registro na história da universidade de casos de discriminação de qualquer tipo, seja contra alunos homossexuais, seja contra alunos que professam outras religiões, ou nenhuma. Todos têm acesso aos mesmos benefícios, como bolsas de estudo.


No entanto, desde o momento em que a publicação do texto da IPB no site do Mackenzie foi “descoberta” pelos ativistas neste ano, a igreja, a universidade e a pessoa de seu Chanceler têm sido duramente atacados e acusados de “homofobia”. Filmados em vídeo, os manifestantes pediam a demissão do Chanceler, cuja foto foi estampada em diversos sites homossexuais acompanhada de palavras de ódio. A virulência que caracterizou essas expressões de indignação, mesmo antes da aprovação do projeto, confirma o quanto é perigoso que a sociedade se veja refém de uma minoria militante, que procura impor seus pontos de vista por meio de pressão e difamação, não admitindo que pessoas, igrejas e organizações cristãs simplesmente afirmem ser a conduta homossexual um pecado.


Para detalhar melhor sua postura bíblica — que se fundamenta no amor, não no separatismo, e prega o respeito a todos —, cristãos que partilham da mesma visão sobre o homossexualismo se uniram para elaborar o manifesto “Universidade Mackenzie: Em Defesa da Liberdade de Expressão Religiosa”. O texto foi reproduzido em cerca de oito mil sites cristãos e conservadores, recebendo mais de 36 mil citações na internet. Traduzido para idiomas como alemão, espanhol, francês, holandês e inglês, foi postado em sites de diversos países estrangeiros, como Estados Unidos, França, Alemanha e Portugal. Centenas de manifestações de solidariedade à postura do Mackenzie foram veiculadas em diversos meios, inclusive no conhecido blog de Reinaldo Azevedo (articulista da revista Veja), um dos comentaristas políticos mais lidos e respeitados do país. Respondendo às acusações de “homofobia” com argumentos sólidos e bíblicos, os cristãos creem que sua postura contribuiu para que a manifestação de repúdio ao documento da IPB tenha recebido tão pouca adesão do público.


Nós, cristãos, estamos alegres e gratos por todo o apoio recebido e pelas orações do povo de Deus em favor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e de seu Chanceler, o Rev. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Instamos o povo de Deus a que se una também em súplicas e intercessões para que o Deus todo-poderoso derrame seu Espírito Santo sobre a igreja evangélica neste país. Necessitamos com urgência de um avivamento, de forma que o Cristo crucificado seja exaltado, os crentes sejam santificados, a Escritura Sagrada seja pregada com liberdade, pecadores se convertam e nosso país seja transformado, para a glória do Deus trino da graça.


Este pronunciamento é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro.
Para ampla divulgação.

sexta-feira, novembro 19

UNIVERSIDADE MACKENZIE: EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA

A Universidade Presbiteriana Mackenzie vem recebendo ataques e críticas por um texto alegadamente “homofóbico” veiculado em seu site desde 2007. Nós, de várias denominações cristãs, vimos prestar solidariedade à instituição. Nós nos levantamos contra o uso indiscriminado do termo “homofobia”, que pretende aplicar-se tanto a assassinos, agressores e discriminadores de homossexuais quanto a líderes religiosos cristãos que, à luz da Escritura Sagrada, consideram a homossexualidade um pecado. Ora, nossa liberdade de consciência e de expressão não nos pode ser negada, nem confundida com violência. Consideramos que mencionar pecados para chamar os homens a um arrependimento voluntário é parte integrante do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhum discurso de ódio pode se calcar na pregação do amor e da graça de Deus.

Como cristãos, temos o mandato bíblico de oferecer o Evangelho da salvação a todas as pessoas. Jesus Cristo morreu para salvar e reconciliar o ser humano com Deus. Cremos, de acordo com as Escrituras, que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Somos pecadores, todos nós. Não existe uma divisão entre “pecadores” e “não-pecadores”. A Bíblia apresenta longas listas de pecado e informa que sem o perdão de Deus o homem está perdido e condenado. Sabemos que são pecado: “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, rivalidades, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias” (Gálatas 5.19). Em sua interpretação tradicional e histórica, as Escrituras judaico-cristãs tratam da conduta homossexual como um pecado, como demonstram os textos de Levítico 18.22, 1Coríntios 6.9-10, Romanos 1.18-32, entre outros. Se queremos o arrependimento e a conversão do perdido, precisamos nomear também esse pecado. Não desejamos mudança de comportamento por força de lei, mas sim, a conversão do coração. E a conversão do coração não passa por pressão externa, mas pela ação graciosa e persuasiva do Espírito Santo de Deus, que, como ensinou o Senhor Jesus Cristo, convence “do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8).

Queremos assim nos certificar de que a eventual aprovação de leis chamadas anti-homofobia não nos impedirá de estender esse convite livremente a todos, um convite que também pode ser recusado. Não somos a favor de nenhum tipo de lei que proíba a conduta homossexual; da mesma forma, somos contrários a qualquer lei que atente contra um princípio caro à sociedade brasileira: a liberdade de consciência. A Constituição Federal (artigo 5º) assegura que “todos são iguais perante a lei”, “estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença” e “estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. Também nos opomos a qualquer força exterior – intimidação, ameaças, agressões verbais e físicas – que vise à mudança de mentalidades. Não aceitamos que a criminalização da opinião seja um instrumento válido para transformações sociais, pois, além de inconstitucional, fomenta uma indesejável onda de autoritarismo, ferindo as bases da democracia. Assim como não buscamos reprimir a conduta homossexual por esses meios coercivos, não queremos que os mesmos meios sejam utilizados para que deixemos de pregar o que cremos. Queremos manter nossa liberdade de anunciar o arrependimento e o perdão de Deus publicamente. Queremos sustentar nosso direito de abrir instituições de ensino confessionais, que reflitam a cosmovisão cristã. Queremos garantir que a comunidade religiosa possa exprimir-se sobre todos os assuntos importantes para a sociedade.

Manifestamos, portanto, nosso total apoio ao pronunciamento da Igreja Presbiteriana do Brasil publicado no ano de 2007 e reproduzido parcialmente, também em 2007, no site da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por seu chanceler, Reverendo Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes. Se ativistas homossexuais pretendem criminalizar a postura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, devem se preparar para confrontar igualmente a Igreja Presbiteriana do Brasil, as igrejas evangélicas de todo o país, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Congregação Judaica do Brasil e, em última instância, censurar as próprias Escrituras judaico-cristãs. Indivíduos, grupos religiosos e instituições têm o direito garantido por lei de expressar sua confessionalidade e sua consciência sujeitas à Palavra de Deus. Postamo-nos firmemente para que essa liberdade não nos seja tirada.

Este manifesto é uma criação coletiva com vistas a representar o pensamento cristão brasileiro.
Para ampla divulgação.

sábado, novembro 6

Bancos fortes, púlpitos fracos

O sistema expositivo-sequencial (lectio continua) é um dos modelos de pregação desenvolvido ao longo da história e talvez até possa ser dito que não está entre os mais adotados e apreciados pelas igrejas evangélicas ao redor do mundo. E, para assombro de muitos aferrados defensores dele hoje em dia, nem pode ser dito que esse modelo é bíblico no sentido de ser requerido explicitamente nas Escrituras (cf. Dr. Augustus Nicodemus).
Mas fico a pensar: quantos pregadores poderiam juntar-se ao Apóstolo Paulo ao final de uma etapa ministerial e declarar, tal como ele fez no reencontro com seus presbíteros de Éfeso: "jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus" (At. 20.27).
Quantos pregadores poderiam dizer hoje: jamais conduzi-me no púlpito de maneira coagida, aceitando subornos verbais, diretos ou velados; jamais flertei com a insepulta tesoura de T. Jefferson, que sempre extraía aquelas seções da Bíblia que não lhe agradavam; jamais sucumbi à pressão dos que não suportam a sã doutrina, que procuram fazer-me um mestre ao gosto de suas próprias cobiças, que determinam o que querem ouvir, que sentem coceira nos ouvidos (II Tm. 4.3)?
Lamentavelmente, o espírito de nossa época não é diferente daquele descrito pelo Dr. Lloyd-Jones há quase 50 anos, onde bancos fortes dominam púlpitos fracos, conforme ele bem configurou no seu clássico “Pregação e Pregadores”.
Ultimamente não tenho escondido minha indisposição e indigestão com outros  estilos, com pregadores que, em nome da "relevância", salteiam suas pregações, salpicam exposições domingo após domingo (hoje Efésios, domingo próximo Jeremias, depois I João...), tornando suas congregações reféns dos temas do momento, das necessidades "atuais", ou que vez ou outra não resistem e entregam aqueles mal camuflados sermões de carapuça.
É preciso cautela para não empacotar todos os pregadores não-sequenciais na descrição acima, como se todos estes fossem expositores astutos e de má índole, obstinados e firmes em sua resolução de não se adequar ao modelo aqui esposado. Reconheço em muitos piedade verdadeira e apreço pelas Escrituras, temor genuíno, pastoreio amável, enfim, conduta aprovável e que em nada desabona o caráter que Cristo vindica deles. Não, não são lobos vorazes ou enganadores de fora e de dentro (At. 20. 29-30; Mt. 24.24).
Não, minha indisponibilidade auditiva não se volta para estes pregadores. Muitos entre eles só não abraçam o sistema sequencial porque lhes falta exposição ao mesmo. Não tiveram a oportunidade de se confrontar com os grandes pregadores expositivos. Com formações precárias ou com pouco acesso a boa literatura reformada em seus rincões pastorais. São dignos de minha consideração. É preciso ter apreço por esses pregadores e evangelistas, leigos, itinerantes, apaixonados pela causa de Cristo, evangelistas incansáveis.
Sim, sonego acolhida para com os de resistência deliberada, que se escondem atrás da “relevância”.
Não é meu propósito historicizar a mudança, mas é a partir dos excessos subjetivistas e secularizados dos avivamentos dos séculos XVIII e XIX que se institucionaliza o primado da descontinuidade expositiva, das idéias e temas em detrimento dos livros bíbli­cos, reveladores agora de uma homi­lé­tica frag­men­tada, sem linearidade.
Não sou pregador no sentido estrito do termo, muito longe disso. Tenho tido, porém, o grande privilégio, não menor que a pesada responsabilidade, de expor a Palavra como professor numa igreja que abraçou a exposição sequencial tanto no currículo adulto da EBD quanto no púlpito. Ali há espaço para temas e ideias, mas os temas e ideias dos escritores bíblicos, expostos em aulas e sermões sequenciais.
Penso que minha identificação com o sistema expositivo-sequencial é muito mais uma aspiração, uma aproximação temerosa, do que propriamente uma adequação a ele. De uma coisa, contudo, tenho segurança para dizer: sei reconhecer um bom sermão expositivo.
Louvo a Deus pela vida e fidelidade ministerial de meu pastor, e de tantos outros ministros reformados que não enchem o povo de vãs esperanças, das visões de seus corações e sim daquilo que vem da boca do Senhor (Jr. 23.16); que anunciam todo o testemunho de Deus (I Co. 2.1); que não se conformam com este século e com seu pragmatismo defensor de resultados a todo custo (Rm. 12.2); que creem na suficiência das Escrituras e de sua eficácia para ensinar, repreender, corrigir, educar na justiça (II Tm. 3.16); que estão convictos de que é pela pregação que os eleitos serão alcançados (Rm. 10.14-15; Jn. 3.5; Mt. 21.32; Jo. 2.23, 4.41; At 2.41, 13.48, 17.34); que não se reconhecem como importantes e decisivos para que os resultados aconteçam (I Co. 3.7), que sabem que são constituídos de matéria frágil, reconhecem-se vasos de barro, para que toda excelência seja divina (I Co. 4.7); que acreditam que sempre haverá crentes nobres e ávidos pela Palavra, examinadores diários dela, como os crentes de Beréia (At. 17.11); que estão certos de que encontrarão crentes tessalonicenses, que recebem a Palavra não como palavra de homens, “e sim como, em verdade é, a Palavra de Deus” (I Ts. 2.13); que aceitam que a Escritura tem um tempo, sim, e este tempo não é o tempo dos homens, e sim o tempo de Deus, pois a Sua Palavra jamais volta vazia e sempre faz o que lhe apraz e prosperará naquilo para o que Ele designou (Is. 55.11). Não foi Ele mesmo quem disse: "Não é a minha palavra fogo, diz o SENHOR, e martelo que esmiúça a penha?" (Jr. 23.29)
A Reforma em nossas igrejas jamais começará, nem tampouco se sustentará, se não partir do púlpito, com homens consagrados e cativos à Palavra. Púlpitos fortes, bancos fortes!