quarta-feira, outubro 20

A cumplicidade dos marca-páginas

Os marcadores de página são companheiros inseparáveis. Não recordo exatamente quando essa espécie de fetiche começou, mas remonta-se aos meus primeiros contatos com a leitura.


E com "leitura" me refiro àquela aproximação que se tornou deliberada e progressivamente compulsiva a partir do colegial, em contraponto às chamadas leituras obrigatórias (e necessárias) da vida escolar.

Estar com um livro na mão passou a prescindir desses dois (entes) objetos: o lápis e o marca-página. O ambiente torna-se quase irrelevante. Cama, sofá, banco do ônibus, rede (uma rede...) tanto faz. Mas, sem eles, não parece leitura. É um ver sem ler, ato rebelde, não canônico.


Dos muitos e irrefletidos rituais de minha vida, automáticos, não-conscientes, este talvez seja um dos últimos aos quais encontro coragem para justificar sua solenidade. Não me sinto pronto e devidamente confortável até ter escolhido um marcador à estatura do título que tenho em mãos.


Não necessariamente sou um colecionador. Evidente, contudo, que minha dileção por uns implica em escanteamento de outros. Pobre vida desses enciumados e ainda intocados marcadores.


Mas os velhos marcadores... Quase todos surrados, amarelados; alguns por certo que suplicando por outros ares. Nunca consultados. Suspeitosos a princípio, capitulam totalmente após a virada da página 30.


Confidentes de tantos autores, peregrinos de tantas páginas, cúmplices dos mais ambíguos sentimentos e reações. Ecléticos, passeiam entre autores de tantas culturas e nacionalidades. Iconoclastas, não frequentam páginas coloridas e ilustradas. Quadrinhos! Revistas! Nem pensar: honra inviolável. Agora, se este gênero se estender à arte de gênios como Will Eisner e Art Spiegelman, passeio liberado.


Fiéis protetores da boa literatura, seja lá o que isso signifique para outros leitores.


Ah, esses marcadores ampliam, e como ampliam, meu círculo de amigos. São interlocutores nas "conversas silenciosas" com os amigos vivos e com os amigos mortos, ambos, no entanto, perenizados através da atemporalidade de seus escritos, definidora, sim, do que convencionou-se chamar de clássico.

4 comentários:

  1. Parabéns pelo blog!
    O meu marcador de páginas virtual (a ferramenta de seguidor do blog) já está ativado!
    abraço

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  2. Parabéns meu caro amigo.
    Se conversar contigo já era fonte de prazer, lê-lo será ainda mais.
    Abraços.

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  3. Allen, vc é um de meus blogueiros favoritos.

    Ronney, sua amizade é inspiradora!

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  4. Prezado Márcio, de fato é um prazer ler os seus textos. Estou contente de ter conhecido Paulo e agora por meio dele, você. Ao ler os seus textos e perceber seu amor pela leitura, fico ainda mais encorajado a lutar para infundir em meus filhos a mesma paixão, para que eles sejam homens sirvam a Cristo da melhor maneira possível. Me tornei um seguidor do blog. Quando puder veja: http://educacaoreformada.blogspot.com/

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